Polónia em Portugal

Bestiário de Lem segundo Mróz

O Parlamento da República da Polónia instituiu o ano de 2021 como Ano de Stanisław Lem. Continuando a ser um autor extremamente popular para seus compatriotas, Stanisław Lem é igualmente um dos escritores polacos mais conhecidos do mundo. Obviamente a escolha do ano não é casual – Stanisław Lem nasceu em Lviv há precisamente 100 anos.

O género literário, em que Stanisław Lem alcançou maior sucesso foi o romance de ficção científica. Na sua obra, o autor confrontava de bom grado a condição humana enquanto ser biológico e pensante com o mundo da inteligência artificial, dos robôs ou de outros seres inanimados.

As obras subsequentes confirmaram o talento do escritor como um visionário de génio. Os seus interesses e as temáticas que abordou constituem tópicos tão importantes como as questões éticas relacionadas com o aparecimento de robôs autoconscientes e da inteligência artificial, bem como de problemas jurídicos gerados pelas conquistas da medicina contemporânea (será um homem com a maioria dos órgãos transplantados ainda a mesma pessoa?).

Foi o artista gráfico de Cracóvia, Daniel Mróz, quem deu a mais perfeita forma gráfica aos heróis das obras de Lem. Para a maioria dos admiradores do escritor, as ilustrações de Mróz e os textos de Lem tornaram-se um todo inseparável. Além da excelência demonstrada nesse seu ofício, os trabalhos de Mróz caracterizam-se pela ambiguidade, por uma imaginação desenfreada e uma grande dose de humor grotesco e absurdo. As ilustrações de Mróz não são servis em relação à prosa de Lem, elas constroem um mundo compatível e ao mesmo tempo próprio.

A exposição, intitulada Bestiário de Lem segundo Mróz, constitui a apresentação dos resultados da colaboração entre os dois artistas. A base da sua conceção, cujo autor é o professor da Academia de Belas Artes de Gdańsk, Janusz Górski, remete-nos para uma referência a álbuns medievais que mostravam aos olhos de leitores espantados feras tais como o elefante, o camelo e, em pé de igualdade, o grifo, o unicórnio ou os habitantes bicéfalos dos Antípodas. No nosso bestiário, apresentamos máquinas emancipadas, um tanto sinistras e ao mesmo tempo um tanto grotescas, mas cuidadosamente desenhadas pelo Mestre Mróz em combinação com as respetivas descrições extraídas dos romances e contos do Mestre Lem.

 

Stellar Entanglement

O principal tema científico do projeto, baseado na técnica narrativa, é uma das questões mais fascinantes da física moderna: o entrelaçamento quântico. Uma misteriosa MALA AMARELA contém uma mensagem enviada por cientistas que habitam outro planeta da nossa galáxia, transmitida pouco antes da sua destruição causada por uma explosão estelar conhecida como supernova. Os participantes têm a oportunidade de assistir ao filme de RV, que documenta o estado atual de conhecimento sobre a evolução das estrelas, incluindo conceitos científicos como Gigante Vermelha, Nebulosa Planetária, Anã Branca ou Supernova. Além disso, o público tem acesso aos dados preservados dentro da MALA AMARELA, tais como amostras, artefactos, documentos, desenhos, documentação técnica e registos de materiais necessários para recuperar a espécie humana.

O projeto não trata apenas das questões da evolução das estrelas e do entrelaçamento quântico, mas também aborda questões filosóficas. As ligações entre as partículas no Universo não diferem das ligações entre nós. Será possível, no entanto, que alguns de nós estejam contaminados com os mesmos elementos que constituíram as civilizações passadas? No final, como dizem os astrónomos, cada um de nós carrega uma lembrança de catástrofes cósmicas - explosões de supernova. Caso sim, será que o facto de sermos construídos da mesma matéria que os núcleos ardentes das estrelas nos permite ser chamados de “filhos das estrelas” ou há algo mais necessário?

O FILME CINEMATOGRÁFICO DE RV "Stellar Entangelment” (2019) (VR 360°) é baseado nos motivos do espetáculo imersivo realizado por Jan Świerkowski “A Evolução das Estrelas”. Conta a história de um misterioso instituto científico que tenta garantir a imortalidade de uma civilização presa num planeta condenado numa região remota da nossa Galáxia. No entanto, seu foco principal é a busca do lugar do Universo dentro dos Humanos. O projeto resultou da fusão de duas galáxias - o grupo de arte e ciência Instytut B61 e a dupla de realizadores The Kissinger Twins (Katarzyna Kifert & Dawid Marcinkowski).

 

Curadoria: Olga A. Marcinkiewicz

 

 

Mais informações sobre o Festival estão disponíveis no site https://www.fica.pt/. A entrada é livre. Apareçam!