Herói silencioso da Segunda Guerra Mundial – Jan Karski
01.09.2021
Há 82 anos, a Alemanha nazi atacou a Polónia. O conflito militar que provocou milhões de mortos no mundo inteiro foi para todos um teste de humanidade e revelou enorme heroísmo de muitas pessoas postas à prova. Um dos heróis silenciosos da Segunda Guerra Mundial foi Jan Karski.
Juventude
Jan Karski (nascido Kozielewski) nasceu numa família numerosa em Łódź. Recordava a sua cidade natal como pobre e suja, mas tolerante: “Polacos, judeus e alemães viviam lado a lado. Sem aquela Łódź provavelmente não haveria o Karski de hoje” – disse numa entrevista em 1999.
Em 1927 foi para a escola de rapazes Marechal Piłsudski – uma escola com forte tradição socialista e preocupação com justiça social. Entre os alunos havia muitos rapazes judeus, que se tornaram amigos de Karski.
Estudos
Em 1931 Kozielewski, após um breve período na Universidade Stefan Batory em Vilnius, mudou-se para Lviv onde iniciou os estudos de direito na Universidade Jan Kazimierz. Um ano depois começou ainda estudos adicionais na Escola de Diplomacia dessa Universidade. Em 1935 terminou os cursos com diploma de Mestre em Direito e em Estudos Diplomáticos.
Missão diplomática
Em 1935 Karski iniciou um curso de um ano na Escola de Cadetes da Reserva de Artilharia em Włodzimierz Wołyński. Em 28 de junho de 1936 foi lhe concedido o título de cadete da reserva, terminando o curso como um dos melhores alunos. Já com o título de cadete começou o trabalho no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Guerra
Após a entrada dos russos nos territórios polacos em setembro de 1939, Karski junto com milhares de oficiais polacos foi preso pelos soviéticos. Graças a uma ação de troca dos prisioneiros entre o Terceiro Reich e a União Soviética, foi transportado para o território de ocupação alemã. Fugiu do transporte e assim escapou o destino da maioria dos oficiais polacos assassinados em 1940 em Katyn.
Após a sua chegada à Varsóvia, Karski envolveu-se no movimento de resistência e tornou-se o emissário do Estado Secreto Polaco. Com a sua memória fotográfica e conhecimento de várias línguas transportava, desde janeiro 1940, instruções e ordens secretas para o Governo polaco no exílio em França e no Reino Unido.
Contribuiu para a criação das estruturas do Estado Secreto Polaco e o funcionamento dessa organização político-militar, a maior na Europa ocupada. Durante a sua terceira missão, em junho de 1940, foi preso na Eslováquia e torturado pelo Gestapo. Tentou suicidar-se mas foi salvo. Pouco tempo depois, a resistência polaca organizou uma ação de resgate tirando-o do hospital em Nowy Sącz. Só anos depois Karski soube que na organização da sua fuga ajudaram mais de 20 pessoas. Como vingança os alemães mataram mais de 30 pessoas.
A última missão
Após breve período de recuperação Karski volta a trabalhar para a resistência – primeiro em Cracóvia e depois em Varsóvia. Em agosto de 1942 encontra-se duas vezes com o representante de Bund Leon Feiner e com o delegado do movimento sionista Menachem Kirszenabum, que o convencem para ver com os seus próprios olhos o que os alemães fazem aos judeus, e transmitir essas informações aos representantes do Governo no exílio, aliados e aos judeus no Oeste.
Karski conseguiu entrar duas vezes ao gueto de Varsóvia. Em disfarce de um soldado ucraniano passou ainda umas horas no campo de transição em Izbica Lubelska, de onde os judeus foram transportados para os campos de concentração de Sobibor e Majdanek. Aí testemunhou, mais uma vez, tratamentos desumanos a pessoas, que morriam à fome ou foram fuziladas. O que viu aí iria lembrar até ao fim da sua vida.
No outono de 1942 Karski consegue chegar a Londres via Bruxelas, Paris Perpignan, Barcelona, Madrid e Gibraltar. Faz o relatório perante o Primeiro-Ministro e general Sikorski sobre a estrutura, organização e funcionamento do Estado Secreto Polaco, transmite também informações sobre o extermínio dos judeus.
O seu relatório, cuja versão encurtada de 17 minutos memorizou, apresenta na Inglaterra, perante o Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico Anthony Eden e o Ministro de Guerra Henry Stimson. Em julho de 1943, dois meses após a aniquilação do gueto de Varsóvia, Karski encontra-se em Casa Branca com o Presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt. As conversas de Karski não tiveram o resultado esperado – a intervenção dos aliados nunca aconteceu.
Em agosto de 1943 volta ao Reino Unido – trabalha num guião de filme sobre o Estado Secreto Polaco. Em 1944, enviado novamente para os EUA, tenta em Hollywood assegurar a realização do filme baseado no seu guião. Confrontado com o fracasso dos planos cinematográficos publica as suas memórias num livro publicado em novembro de 1944. O "The Story of Secret State", com 400 mil exemplares, torna-se um grande sucesso.
Depois da guerra
Depois da guerra Karski fica nos EUA. Após a conclusão do curso e doutoramento na Universidade de Georgetown em Washington, durante quarenta anos leciona relações internacionais e teoria de comunismo na Escola de Relações Exteriores da Universidade de Georgetown. Em 1954 recebeu a cidadania americana e em 1965 casou-se com Pola Nireńska, polaco-judia, aclamada bailarina e coreógrafa que perdeu a parte da sua família durante o Holocausto. Em 1992 Nireńska, que sofria de depressão, suicidou-se.
Durante muitos anos Jan Karski não revelou as suas experiências de guerra. O papel que teve na informação do mundo livre sobre o Holocausto só ficou conhecido após a entrevista que deu em 1978 a Claude Lanzmann, que realizava o filme "Shoah".
Em 1995 Jan Karski foi condecorado com a Ordem da Águia Branca pelo Presidente Lech Wałęsa, e em 29 de maio de 2012 o Presidente Barack Obama concedeu-lhe a título póstumo a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração civil americana.
Jan Karski faleceu no dia 13 de julho de 2000 em Washington.
Fonte: Culture.pl