Polónia em Portugal

Não é preciso ser um observador atento da vida económica para perceber que há uma relação entre o crescimento económico e as cotações em bolsas. Apesar de centenas de estudos que tentam explicar esta correlação, continuamos sem saber se é o mercado de capitais que impulsiona o crescimento ou se a força dos mercados bolsistas resulta do crescimento económico. Possivelmente, seria mais acertado afirmar que se trata de uma espécie de sistema de feedback. Os mercados públicos de capitais convertem as poupanças num investimento de uma maneira mais eficiente, mas o investimento apenas faz sentido quando se pode esperar uns rendimentos atrativos, e esses estão vinculados ao crescimento económico.

Ao analisar a relação entre o PIB per capita e a proporção da capitalização das empresas públicas no PIB dos países do Espaço Económico Europeu, podemos ver claramente que os países "ricos" também dispõem de mercados de capitais "maiores". Nos países da iniciativa Três Mares, o mercado de capitais está, geralmente, menos desenvolvido do que indica o nível de desenvolvimento económico. 

 

A Polónia é um país que tem crescido rapidamente e que tem um mercado de capitais bastante grande em relação com o seu PIB. Nos últimos 30 anos, o PIB mais que triplicou o seu valor, o que significa um crescimento económico real de 4% anual. O crescimento nominal foi, naturalmente, maior, com um valor superior a 11,5% anual. Ao mesmo tempo, o índice principal bolsista WIG tem crescido a um ritmo médio superior a 15% durante estes 30 anos. Talvez esse seja o segredo do sucesso. As empresas que crescem por cima da "media nacional" estão cotadas na Bolsa de Varsóvia, o que atrai os investidores, e a presença deles incentiva outras boas empresas a estrear-se na bolsa.

Apesar do seu êxito incontestável, o mercado de capitais polaco tem ainda um grande potencial de crescimento. A proporção da capitalização no PIB oscila entre 30 e 40%, ou seja, duas vezes menos que nos países de assim chamada antiga União Europeia. O potencial é ainda maior nos restantes países da iniciativa Três Mares. Se excluímos a Áustria e a Polónia, a relação média entre o tamanho de mercado de capitais e o PIB situa-se entre 15 e 20%, não obstante os resultados económicos muito bons nas últimas três décadas.

Mesmo que as empresas que estão cotadas nas bolsas de Três Mares se desenvolvam com dinamismo, a captação de investidores, e em consequência de mais empresas, é minada pelas economias de escala. Quase 85% do volume de negócios concentra-se nos três maiores mercados da região, pelo que parece necessária uma cooperação mais estreita entre eles. Ao criar uma oferta comum para os investidores mundiais, as empresas dinâmicas teriam uma oportunidade de obter capital na região que não tentava tomar controlo dessas entidades.  

 

 

 

Um exemplo de tal cooperação é a criação, em 2019, do índice CEEplus, que inclui 153 empresas de sete países da região: Polónia, Croácia, República Checa, Roménia, Eslováquia, Eslovénia e Hungria. A sua diversidade, tanto por países como por setores, está suscitando um crescente interesse por parte de fundos e investidores no mundo inteiro.

O índice também promove as atividades conjuntas de marketing e a apresentação de uma posição comum no que diz respeito às soluções regulamentares da UE para os mercados de capitais. Até agora, os grandes atores têm dominado nas negociações, o que, combinado com algumas das propostas da Comissão Europeia, poderia destruir as bolsas mais pequenas.

Tecnologia é uma das áreas de cooperação muito importantes do ponto de vista da Bolsa de Varsóvia. Atualmente, as bolsas da região estão a provar algumas das nossas soluções. No futuro, o nosso produto de exportação vai se tornar num sistema de transação exclusivo, adaptado às particularidades das bolsas mais pequenas, e que vai permitir a criação de um ecossistema tecnológico único para os mercados de capitais dessa parte da Europa.

A Conferência sobre as Bolsas de Valores de Três Mares, organizada pela Bolsa de Varsóvia, é uma plataforma especial para o intercâmbio de experiências. Estamos muito satisfeitos que na edição deste ano participaram as bolsas da Bulgária e Áustria, assim como convidados de fora da Iniciativa Três Mares: Arménia, Grécia e Geórgia. 

A Bolsa de Varsóvia é atualmente o líder indiscutível deste grupo. Há duas décadas, a Bolsa de Atenas era quatro vezes maior que a Bolsa de Varsóvia em termos de capitalização, e mais de dobro em termos de faturação. Hoje em dia, a Bolsa de Varsóvia é quatro vezes maior que a bolsa grega. Este rápido ritmo de desenvolvimento tem proporcionado à Polónia uns conhecimentos únicos sobre como desenvolver os mercados de capitais. No entanto, não vemos a nossa posição na região como um privilégio para dominar, mas como um compromisso para apoiar o desenvolvimento dos mercados de capitais na região no geral.

A Iniciativa Três Mares nasceu como resposta às lacunas nas infraestruturas de transporte e de transferência no eixo norte-sul. Ao longo do seu desenvolvimento, observou-se também uma situação análoga no mercado de capitais. Embora existam varias áreas de colaboração entre as bolsas de valores da região e os principais mercados ocidentais, as relações entre o norte e o sul da região são muito fracas.

Está na hora de mudar isso. Para benefício de milhares de empresas da região que procuram o capital e de investidores que desejam encontrar oportunidades para multiplicar as suas poupanças. A Bolsa de Polónia, como líder da região, assume esta tarefa com prudência e coragem.

 

Texto publicado em simultâneo com a revista mensal polaca de opinião Wszystko Co Najważniejsze [O Mais Importante] no âmbito do projeto realizado com a Bolsa de Valores de Varsóvia .