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O imperialismo russo na guerra com a Europa Central e Oriental

17.09.2022

A eclosão da Segunda Guerra Mundial, que começou com a invasão da Polónia pelo Terceiro Reich Alemão em 1 de Setembro de 1939, é uma das datas lembradas anualmente em toda a Europa. No entanto, a data da agressão da União Soviética contra a Polónia, 17 de Setembro de 1939, não é tão conhecida no Ocidente. Portanto, acredito que é necessário lembrar constantemente deste evento, que decidiu o destino da minha pátria e de outros países da Europa Central e Oriental, e por todo o próximo meio século.

O imperialismo russo na guerra com a Europa Central e Oriental

Se hoje nós, polacos, e outras nações da nossa região, muitas vezes afirmamos conhecer a Rússia e compreender a sua motivação imperial melhor do que o Ocidente, dizemos isso precisamente por ter experiências históricas, como esta simbolizada pelo 17 de Setembro.

A invasão do Exército Vermelho ao território polaco duas semanas e meia após o ataque da Wehrmacht e Luftwaffe foi o cumprimento dos estabelecimentos da parte secreta do Pacto Hitler-Stalin, assinado em 23 de Agosto de 1939 pelos chefes de ambas as diplomacias: Ribbentrop e Molotov. Os dois impérios totalitários formaram uma aliança, dividindo entre si os países até então independentes da Europa Central.

A esfera de influência alemã deveria incluir a parte ocidental da Polónia, bem como a Lituânia e a Roménia, enquanto a esfera de influência soviética a parte oriental da Polónia, a Letónia, a Estónia e a Finlândia.

A consequência mais importante do pacto para a minha nação foi a liquidação do Estado Polaco independente e a divisão do nosso território entre duas potências ocupantes, a Alemanha nazi e a Rússia comunista. Outros estabelecimentos do tratado foram parcialmente alterados nos dois anos seguintes. A Finlândia salvou a sua independência graças à Guerra de Inverno de 1940. A Lituânia, entretanto, após um período da relativa independência, foi absorvida pela União Soviética. Contudo, as particulares mudanças não afetaram a regra mais importante do pacto: o destino dos povos e estados da nossa parte da Europa era agora determinado por dois imperialismos: o de Hitler e o de Stalin.

Sob a ocupação alemã, a Polónia sofreu enormes perdas humanas e materiais. Os nazistas mataram 6 milhões de cidadãos da República da Polónia, incluindo quase 3 milhões de judeus polacos. Demoliram e queimaram milhares de cidades e aldeias polacas, sobretudo a capital Varsóvia. Saquearam inúmeros bens materiais e culturais, privados e públicos, que nunca foram devolvidos ao meu país. Apenas uma pequena fração dos autores de genocídio e extermínio alemães, crimes de guerra, terror em massa e pilhagens foram levados aos tribunais de Nuremberga e Varsóvia após a guerra e punidos de forma justa.

No entanto, os crimes da Alemanha nazi foram pelo menos moralmente condenados por todo o mundo livre. Infelizmente, esse não foi o caso dos crimes da Rússia comunista, que permaneceram impunes e muitas vezes esquecidos.

O que nos trouxe a ocupação soviética de mais da metade do território polaco pré-guerra? Trouxe o massacre de Katyń: o extermínio de 22 000 prisioneiros de guerra - oficiais do Exército Polaco, polícias e soldados, assim como funcionários públicos e outros prisioneiros políticos. Foram fuzilados, violando todas as convenções internacionais, porque o Estaline os considerou inimigos irreconciliáveis ​​do comunismo e patriotas leais à sua pátria. A ocupação trouxe a deportação de meio milhão dos meus compatriotas para os gulags e zonas de assentamento forçado na Sibéria e na região asiática soviética; uma grande parte deles nunca regressou daquela "terra desumana", acabando por morrer no exílio. A ocupação trouxe o terror brutal da NKVD e a doutrinação ideológica, destruição da identidade e tradição nacional polacas, atos de incutir forçadamente os princípios comunistas a crianças e a renúncia forçada à fé religiosa.

Não apenas nós, polacos, sabemos disso, mas também os povos bálticos: estónios, letões e lituanos. Assim como outras nações que foram abrangidas pela esfera de influência soviética após a vitória da Rússia sobre o Terceiro Reich.

De facto, ao fim de menos de dois anos, o Pacto Hitler-Stalin sofreu um colapso, quando a Alemanha atacou a Rússia de Estaline em 22 de Junho de 1941. Mas o princípio de que o destino dos países da Europa Central e Oriental é decidido não pelos próprios povos livres, mas pelos governantes das potências imperiais, permaneceu válido.

Os soviéticos derrotaram os nazis, e em 1945 ocuparam todo o território da Polónia e de outros países mais a oeste e a sul, até aos rios Elba, Danúbio e Drava. Alguns deles foram incorporados diretamente no estado soviético enquanto estados federais: tal foi o destino dos estados bálticos, Bielorrússia e Ucrânia. Noutros, instalaram-se governos fantoches formados por comunistas locais, totalmente subordinados a Moscovo: foi o caso da Polónia, Checoslováquia, Roménia, Hungria, Bulgária e Alemanha de Leste.

Para as nossas nações, a derrota do Terceiro Reich não trouxe a tão desejada liberdade. A dependência do império russo continuou até à queda do comunismo, durante meio século!

Somente as mudanças democráticas, iniciadas em 1989 pelo movimento polaco “Solidariedade”,  levaram à verdadeira libertação dos polacos e outras nações da Europa Central e Oriental, permitindo-lhes recuperar os seus próprios estados soberanos. A maioria deles tornou-se, gradualmente, membros de pleno direito da OTAN e da União Europeia.

No entanto, a independência dos países da nossa região sempre incomodou os imperialistas russos. Assim que Moscovo recuperou do choque de perder a esfera de influência estalinista, começou a reconstruir o seu império. Recordamos o assalto militar de 2008 à Geórgia. Recordamos também a repressão repetida e brutal dos movimentos de liberdade na Bielorrússia e na Ucrânia. Finalmente, recordamos a política hostil da Rússia em relação à Ucrânia independente, a anexação armada da Crimeia e Dombas em 2014 e, acima de tudo, a guerra genocida em grande escala contra o estado soberano ucraniano que tem vindo a ser travada desde 24 de fevereiro de 2022.

Para as nações da nossa região, que se lembram da experiência histórica simbolizada pela data de 17 de setembro, não há dúvida de que a Rússia imperial está mais uma vez a tentar expandir-se para outros estados. Quer o mesmo que quis em 1939 e 1940, quando agiu em aliança com a Alemanha nazi, ou entre 1945 e 1991, quando autonomamente governou os nossos países.

A Rússia sempre quis ter poder sobre toda a Europa Central e Oriental. Mas a Polónia livre, a Ucrânia livre e todos os outros estados independentes da nossa região nunca aceitarão isto. Para as nossas nações, é uma questão de vida ou de morte, de preservação da identidade e de sobrevivência. Trata-se do nosso futuro, da nossa segurança e da nossa prosperidade.

 

Andrzej Duda
Presidente da República da Polónia

 

Texto publicado simultaneamente com a revista de opinião mensal Wszystko Co Najważniejsze [O Mais Importante] no âmbito do projeto realizado com o Instituto de Memória Nacional e a Fundação Nacional Polaca.

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