Polónia. O seu segundo nome é História
06.10.2021
Queremos que conheçam a incrível história da Polónia, porque não é apenas um dos países do mundo que mais sofreu pela sua história, mas que soube usar essa experiência como uma fonte de força para lutar pelo valor humano mais universal: a liberdade.
A Segunda Guerra Mundial começou na Polónia. É de conhecimento geral. No entanto, para muitas pessoas pode ser surpreendente que o nosso país foi atacado não só pela Alemanha. No dia 17 de setembro de 1939, a fronteira polaca foi atravessada pelas tropas da União Soviética, que tomaram o controlo sobre quase metade do território polaco. Fizeram isso para implementar um acordo secreto, assinado em 23 de agosto, entre a Alemanha nazi e a Rússia bolchevique. É precisamente esse dia que foi proclamado pelo Parlamento Europeu como o Dia Europeu em Memória das Vítimas de todos os Regimes Totalitários e Autoritários.
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A Polónia foi outrora um dos mais poderosos estados da Europa. Elaborou umas normas democráticas, incomuns naquela época, que limitavam o poder dos reis. Já na Idade Média, os juristas polacos desenvolveram “a escola polaca de direito das nações” que rejeitava agressões e guerras contra os estados pagãos. A Polónia praticava uma tolerância incrível, o que atraia intelectuais da Europa inteira, que por vezes fugiam da perseguição nos seus países. Foi também um refúgio para a diáspora judaica que foi sendo expulsa da Europa ocidental desde a Idade Média.
No século XIX a Polónia foi dilacerada pela Rússia, Prússia e Áustria, perdendo a sua independência por 123 anos. Os invasores apagavam as insurreições de uma forma sangrenta, destruíam a cultura polaca, as crianças polacas estudavam em outras línguas. Contudo, cinco gerações mais tarde, em 1918, em apenas alguns meses reconstruímos o Estado e criámos um exército de voluntários que em 1920 salvou a Europa da invasão da Rússia bolchevique, desejosa de impor a ordem comunista no continente. 101 anos após essa batalha, considerada a 18.ª batalha mais importante da história mundial, é de lembrar que esse feito não foi um resultado da potência económica ou militar da Polónia na altura. O decisivo foi esse gene excecional de liberdade que os polacos desde sempre tinham.
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Depois de 1920, a Polónia construiu uma economia sólida e um Estado forte, mas conseguiu criar apenas uma geração de polacos nascidos num país livre. Já em 1939 houve os primeiros disparos da Segunda Guerra Mundial e a nossa liberdade foi-nos novamente retirada pelos dois regimes totalitários. Desta vez quiseram aniquilar fisicamente a nação.
Durante a Guerra cerca de 6 milhões de polacos foram mortos, entre eles mais de 3 milhões dos cidadãos polacos da origem judaica. Foi nas terras polacas onde os alemães perpetraram o Holocausto. As elites polacas eram assassinadas de uma forma planeada. Mais de 800 aldeias polacas foram pacificadas, os seus habitantes foram mortos e os edifícios devastados. Foi inicialmente para os polacos que os alemães construíram a sua maior fábrica de morte: Auschwitz-Birkenau. A União Soviética, que ocupou quase a metade da Polónia, assassinou aproximadamente 20 000 oficiais polacos. Centenas de milhares dos cidadãos polacos foram transportados para o interior da Rússia, onde morreram de fome e de trabalho escravo. A economia e a agricultura foram totalmente destruídos, e a continuidade biológica da nação foi rompida.
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Apesar disso, os polacos lutaram desde o primeiro dia da guerra em todas as frentes, sendo o quinto maior exército depois dos EUA, União Soviética, Reino Unido e França. Os matemáticos polacos entregaram aos franceses e ingleses as máquinas de criptografia Enigma “resolvidas”, mudando o curso da guerra a favor dos aliados, enquanto os engenheiros polacos inventaram um detetor de minas e um walkie-talkie para o benefício das forças aliadas.
Dentro dos polacos ainda havia aquele gene de liberdade, que lhes ordenou lutar contra os alemães em África, Itália, França e Inglaterra, no ar e no mar. Na Polónia sob a ocupação alemã, os polacos realizavam extraordinários atos de coragem, sendo a Polónia o único país ocupado pelos alemães onde a ajuda aos judeus foi punida com morte. A trabalhadora social Irena Sendlerowa (Sendler) ajudou a salvar quase 2 000 crianças judaicas. A irmã Matylda Getter usou a rede dos orfanatos geridos pela sua ordem para esconder centenas de crianças tiradas dos guetos.
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E à beira de liberdade, as grandes potências entregaram a Polónia ao poder da União Soviética e do seu governo comunista fantoche. Com a frente entravam ao nosso país as forças especiais soviéticas, efetuando detenções em massa e assassinando as pessoas que lutaram pela sua liberdade durante cinco anos. Quando o ocidente celebrava a sua liberdade reconquistada, a liberdade da Polónia foi novamente retirada pela Rússia soviética.
Um exemplo muito notável é a figura de Witold Pilecki, um dos heróis polacos mais importantes dos tempos de guerra e um homem que é um símbolo mundial de luta contra os sistemas totalitários. Enquanto jovem lutou na guerra de 1920. Depois de 1939 participou na conspiração. Infiltrou-se no inferno na terra, em Auschwitz, onde organizou uma rede clandestina e escreveu relatórios para informar os aliados sobre os métodos de extermínio utilizados pelos alemães. Quando a guerra acabou, foi preso pelas autoridades comunistas, torturado para forçar uma confissão, e condenado a pena de morte num julgamento de fachada. Logo após ouvir a sentença, disse: “Oświęcim [Auschwitz] não se compara a isto.”
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Os polacos nunca renunciaram a sua liberdade. Quando a metade da Europa se mantinha sob a influência da União Soviética, a Polónia revoltava-se. Não havia nem uma década sem protestos, por norma reprimidos de modo sangrento, e a escala da rejeição do regime comunista tornou-se mais evidente quando na altura da criação do “Solidariedade”, em 1980, se inscreveram 10 milhões de polacos.
O nascimento do “Solidariedade” iniciou a erosão do comunismo soviético. Dez anos depois, a Europa inteira podia novamente gozar de liberdade. O império soviético caiu, os países da Europa Central voltaram a ser democráticos e os seus cidadãos recuperaram a liberdade. A Europa uniu-se, e foi também graças ao gene de liberdade polaco.
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O Instituto da Memória Nacional da Polónia pretende contar ao mundo sobre a Polónia e sobre os polacos, para que possamos tirar da história lições de sabedoria e de responsabilidade. Inclusive na política global.
Karol Nawrocki é presidente do Instituto da Memória Nacional
Texto publicado em simultâneo com a revista mensal polaca Wszystko Co Najważniejsze (“O Mais Importante”) no âmbito do projeto realizado com o Instituto da Memória Nacional.